RSS

Arte em forma

Elementos da arte: a forma


Bob Ross, Quiet Inlet
Bob Ross, Quiet Inlet, Temporada 3, episódio 7


Neste artigo abordamos a “forma”, procurando ainda realçar a importância do artista compreender o modo como as deve representar. 

Para pintar não basta representar de forma “literal” aquilo que vemos. 




Tal como um poeta não descreve uma pessoa como um biólogo o faria, na pintura, tudo o que vemos no mundo real é também transformado para uma linguagem própria: mesmo na pintura realista, de um modo mais ou menos abstrato, traduzimos para o plano bidimensional aquilo que observamos em três dimensões.






A aplicação da “forma” na arte é normalmente utilizada na pintura para criar “áreas ou focos de interesse”. Comecemos por abordar a classificação das formas.

Formas bidimensionais vs

tridimensionais

Uma forma com 2 dimensões é uma área (geométrica ou indefinida) reconhecida por uma mancha de cor ou por alguma linha externa (contorno). 
A forma bidimensional sendo a base da composição da pintura e fotografia, pode ser transformada numa forma tridimensional se usarmos o “valor” e o “sombreado”, em particular na pintura naturalista. 

Contudo, alguns artistas tornaram-se famosos por realçarem as formas bidimensionais, removendo o valor e reduzindo a forma a simples contornos:

PABLO PICASSO (1881-1973)
'Bull - plate 3', December 18, 1945 (lithograph)

PABLO PICASSO (1881-1973)
'Bull - plate 10', January 10, 1946 (lithograph)


Formas geométricas vs naturais

As formas podem ser classificadas como orgânicas (formas naturais) ou geométricas, estas últimas passiveis de serem descritas por fórmulas matemáticas (como o circulo, retângulo, trapézio, hexagrama, etc.)

As formas geométricas são usadas na arquitetura, geralmente associadas a objetos construídos pelo Homem. No entanto há exceções, tais como os cristais de neve, espirais como as conchas e até esferas como os frutos.

Desenhos de Leonardo Da Vinci


Porque nem todos os objetos são geométricos, muitas formas possuem contornos irregulares, assim temos ainda as formas “livres” ou “orgânicas”.



Existem no entanto situações em que o objeto geométrico pode ser representado de forma livre, como uma cortina ou bandeira a esvoaçar ao vento ou até numa pintura naif:









Representando as formas na pintura

Como referido antes, o motivo pelo qual o artista deve compreender a forma, é porque possibilita a compreensão dos princípios que permitem representar e alterar a perceção da realidade. 

O primeiro aspeto a ter em conta é que quando pintamos não copiamos a realidade, mas antes, representamo-la. 

Assim, o artista deve procurar a simplificação (mesmo quando trabalha como um naturalista), em maior ou menor grau de abstração.

Assim é que em particular os workshops Bob Ross nos ensinam a simplicidade da pintura: uma das coisas que desde logo notamos é a economia no traçado e nas pinceladas, procurando-se sempre evitar “pintar demais”. 



A forma e a perspetiva

Os fatores como a nossa posição relativamente ao objeto podem afetar, realçar ou pelo contrário ou alterar a forma (como vimos em artigos anteriores: uma nova perspetiva na pintura).

Por outro lado, numa pintura naif, podemos não respeitar como vimos em cima e de modo propositado a perspetiva do objeto..


A forma e o fundo (espaço)

É intuitivo perceber que um fundo muito simples permite realçar as formas desta pintura.


Bob Ross, Purple Splendor, Temporada 4, episódio 1
Bob Ross, Purple Splendor, Temporada 4, episódio 1

Contudo, no segundo caso abaixo, a proximidade e complexidade do fundo exigiu maior utilização de valores de verde para contrastar e individualizar as formas das várias árvores evitando-se aquilo que poderia ter resultado numa mancha de arvoredo indefinido e desinteressante. 

Já temos abordado outros exemplos do efeito do fundo sobre a pintura


Bob Ross, Northwest Magesty, Temporada 4, episódio 11



A manipulação do espaço negativo (o fundo) e positivo (a forma) permite compreender os princípios da composição, já que o espaço negativo não deve ser considerado apenas como um vazio.










Podemos dar como exemplo de manipulação do espaço-forma (que nos deixam na duvida sobre o que é a forma e o que é o espaço) os desenhos de Escher: 








Matisse é outro artista que frequentemente jogava com a forma e o fundo nas suas composições,








Mostrando como o espaço pode ser tão ou mais importante do que a forma e como Por vezes pode tornar-se mais simples ou apropriado “esculpir” as formas a partir do fundo do que produzir a forma): 





A forma e a profundidade

Os workshops de Bob Ross ensinam-nos a pintar camada sobre camada, ou melhor dizendo, formas sobre formas, constituindo a sobreposição das formas que o método por excelencia de realce da profundidade como se exemplifica na sequência seguinte:



      

E o resultado final (ver passo a passo completo aqui):

Bob Ross, Mystic Mountain

A forma e a composição

Na composição de uma pintura, as formas são o esqueleto. Podemos usar os contornos da forma para definir as areas da composição (artigo que publicaremos em breve) ou como elemento da composição em si.

A orientação das formas tem um impacto psicológico sobre o observador:

  • As formas horizontais e verticais transmitem ou geram calma;
  • As formas obliquas transmitem energia;
  • A repetição das formas transmitem ritmo (tal como as linhas de árvores ao longo de uma estrada);



Pensar em termos de formas ajuda-nos a construir uma boa composição, conduzindo o olhar do observador ao longo da pintura (em breve teremos uma artigo para desenvolver mais este tema); 

A forma e a luz

A fonte da luz é outro aspeto muito importante a ter conta na maneira como as formas são percebidas. Tal como vemos nas imagens em baixo, podemos usar a luz para por exemplo realçar o dramatismo.
   


A orientação da luz é a qualidade mais importante na pintura seguinte, e que nos leva a focar o nosso olhar sobre o fundo e sobre a cascata de água e não sobre as arvores (que ocupam quase todo o quadro).


Bob Ross, Enchanted Falls, Temporada 25, episódio 2


A extensão deste artigo revela a importância da forma na pintura, por este motivo, deixamos uma sintese de alguns pontos que vale a pena realçar:

  • Uma pintura deverá idealmente utilizar uma boa variedade de formas;
  • O artista deve procurar a simplificação;
  • Trabalhar sobre o contraste das formas permite realçar a individualidade e portanto obter o interesse do observador em cada forma, recorrendo ao valor, sombras e luz;
  • Pensar em termos de formas ajuda-nos a construir uma boa composição;
  • A sobreposição de formas permite realçar a profundidade;
  • A orientação das formas tem um impacto psicologico sobre o observador;


Exercicios

E finalmente propomos os seguintes exercicios que podem ajudar a aprender a ver como um pintor:

  1. O exemplo de redução e simplificação de imagens 3D a 2D de Picasso que apresentámos em cima (e que na realidade envolveu mais passos). Uma maneira simples de realizar este exercicio é tentar reduzir uma fotografia a um vitral.
  2. Pintar um quadro a partir de uma fotografia posicionada de cabeça para baixo. Desta forma abstraimo-nos de tudo o que sabemos acerca da forma e cingimos o nosso trabalho à forma em si. 





Boas pinturas!






  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários: