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Pintar o Espaço



Elementos da arte: o espaço


Bob Ross, Temporada 30, episódio 7, Through the Window
Um dos aspetos muito comentado pelos nossos alunos no seu primeiro workshop é a dimensão da tela que usamos nas aulas. Todo aquele espaço em  branco revela-se aterrador!

Mas é uma ilusão face à simplicidade e rapidez de aplicação das técnicas que pintura que irão aprender. Em minutos, a tela ganha cor e as formas surgem como por magia, deixando de ser um simples vazio.


Espreitemos então pela "janela". Continue a ler!



O Espaço na pintura


Quando falamos em “espaço”, pode parecer que nos referimos apenas à área vazia que se encontra acima, por baixo ou entre objetos mas se na verdade, numa tela temos:

  •          Espaço positivo: as formas ou áreas de interesse;
  •          Espaço negativo: espaço vazio entre as formas.


É incrível como tanta vida pode nascer a partir de um espaço bidimensional em branco.

Poderíamos no entanto pensar que na pintura nos limitamos a “ocupar” esse espaço com objetos. Mas na verdade, na pintura o espaço negativo é alvo de tanta dedicação quanto o espaço positivo!

Decidir como vamos tratar o espaço na nossa tela define o nosso próprio estilo pessoal de pintura.


Criar Espaço


Como vimos em artigo anterior, “arte em forma”, na pintura não devemos pensar no espaço negativo apenas como um vazio entre objetos. É através da manipulação do espaço negativo (o fundo) e positivo (a forma) que jogamos com os princípios da composição de um modo integrado.

Na verdade não ocupamos espaço mas antes, criamos o “espaço”. Isto significa organizar e compor, atividade esta muito importante nas artes visuais. Alguns pintores como Frank Stella consideravam mesmo esta como a atividade mais importante na arte.

Como criamos o espaço? Cada escola de pintura trouxe formas de diferentes de entender e portanto, criar o espaço. Conhecê-las permite-nos reconhecer e amplificar as técnicas de pintura e que passamos a poder decidir de forma consciente, usar de um modo pessoal:


A geometria renascentista


Na pintura renascentista, por exemplo, utilizavam-se as técnicas da perspetiva e geometria para recriar de um modo científico um espaço tridimensional com um intuito realista. Leonardo Da Vinci é um exemplo muito conhecido desse estilo:



 Leonardo Da Vinci, Mona Lisa e a regra de ouro

O cubismo


O cubismo ao rejeitar todas essas técnicas tridimensionais (e quase cientificas) e realçar o plano bidimensional, desconstruindo a realidade.

Braque, mulher na guitarra
Na verdade o cubismo procurava não apenas abolir a ideia de que a perspetiva seria a única forma de representar a realidade, mas ainda, transpor para a tela a possibilidade de revelar uma outra essência, quase que como uma quarta dimensão, que se esconde por trás da perceção sensorial.

Como na teoria da relatividade, o espaço deixa de ser simples “espaço físico” (tridimensional) e passa a ser um espaço-tempo. Como?

Da geometria às cores e à textura, a evolução dentro do movimento cubista procurou despertar sensações e não apresentar formas unificadas.

Pretendeu-se antes sugerir formas, mostrar várias perspetivas de cada forma (daí o fragmentar dos objetos) e despertar sensações pela cor e pela textura.



Impressionismo


Paul Cezánne, the great pine
O impressionismo, trouxe-nos a criação da sensação de espaço (não a representação realista do mesmo), através da conjugação dos efeitos visuais recriados por múltiplas pinceladas sobrepostas de cores e da disposição do espaço e forma. Uma renovada interpretação do espaço, pelos jogos da ótica. 

O espaço deixa de estar vazio e passa a constituir áreas cheias de energia e vida.
 



A pintura abstrata


Nunca o espaço foi alvo de tanto trabalho como na pintura abstrata pós-cubista. A textura e a cor são trabalhadas até à exaustão. Contudo, manteve o realce da bidimensionalidade.



Wassilykandinsky

O Surrealismo


Salvador Dali
Mas a história da pintura não ficou por aqui. Pintores como Dali devolveram a tridimensionalidade e ampliaram a possibilidade da pintura oferecer outras dimensões (o sonho, a imaginação) à pintura e devolveu a narrativa à pintura (a história subjacente), ao mesmo tempo mantendo a possibilidade de destruturação das formas físicas que o cubismo e abstracionismo tem como metas, fazendo tudo isto com um elevado grau de criatividade.
 


Embora os estilos mais abstracionistas seja ainda muito divulgados, é patente hoje em dia que a pintura evoluiu num sentido muito eclético, sendo tão comum ver artistas híper-realistas na aplicação de regras de perspetiva como pintores que realçam a textura e a cor. Mas em todas estes estilos é visível a importância da composição na organização do espaço e dos objetos na tela.

O estilo de Bob Ross


Como se posiciona então Bob Ross nesta amplitude de estilos tão variado?

Bob Ross, Temporada 27, episódio 7, 
A Spectacular View
Podemos dizer que não abraçou o rigor do desenho geométrico nas formas (daí que não seja sequer necessário saber desenhar!) pois as suas formas distinguem-se do espaço pela cor ou por manchas de luz projetada sobre os objetos no espaço. As árvores são manchas que não deixam de ser triangulares (como os cultivadores de bonsais sabem), mas a forma triangular surge da cor e dos reflexos, não do contorno ou da perspetiva;




Como naturalista que era, respeitava regras de geometria para criar cada composição, sendo visível por exemplo a aplicação intuitiva da regra dourada ("regras de composição"). Podemos ainda apreciar como utiliza cores leves e transparentes para criar a sensação de espaço, e como distingue as formas através de manchas de luz projetada e através da textura.

Observem por exemplo como, a luz solar e os efeitos do Céu predominam nas suas pinturas: na ilusão de reflexo do Céu (obtida pela técnica incrivelmente simples de replicação das cores do Céu na zona inferior da tela) permite criar de imediato um rio ou um lago. 

Bob Ross, temporada 10, episódio 8, Golden Sunset
 
Observem ainda como se cria a ilusão da transparência da água pela utilização do valor claro no olho da onda:


Bob Ross, temporada 9, episodio 6, Secluded Beach

Embora não reconhecido pela elite de pintores americanos (reconhecer ou não o valor artístico dos temas que apresentamos nos nossos artigos não tem sentido, pois resultam de apresentações televisivas de 30 minutos e têm como meta ensinar!), a pintura naturalista de Bob Ross apresenta-se a nosso ver como um conjunto de técnicas geniais, e embora não se enquadre como tal, o seu método beneficiou muito significativamente das técnicas impressionistas, tornando-se um tipo de pintura muito simples, atual e sensorial.

Criar espaço com o método Bob Ross


Partilhamos algumas técnicas patentes nos nossos workshops para recriar espaço e formas:

Recorrer a regras simples de perspetiva para criar profundidade:

    1. pintamos rios e árvores dispostas em linhas convergentes para criar profundidade;
    2. colocamos os objetos que queremos parecer mais distantes na zona superior;
    3. colocamos os objetos que queremos parecer mais próximos na zona inferior da tela;
    4. sobrepomos consecutivamente os objetos anteriores para criar profundidade;


Bob Ross, temporada 25, episódio 4, Splashes of Autumn

Utilizar a Cor para criar as formas e a profundidade (numa paisagem em geral a não ser que tenhamos outra intenção, usamos cores frias para pintar objetos distantes e quentes para objetos próximos) mas também sensações de vida e de luz quer ao nível dos objetos, quer do tema da pintura em geral: a frieza Invernal do azul e branco, a melancolia de uma paisagem castanha, o mistério e a mística de um bosque difuso;


Bob Ross, temporada 26, episódio 13, Evening at the Falls

Treinar as pinceladas (ou usar a espátula) de modo a alcançar aplicações de tinta separadas, para produzir sensações de objetos e espaço como manchas sem contorno, mas com luz e reflexos;

Ou para aplicar Textura, esta necessária para mais uma vez criar sensações de luz e forma;


Bob Ross, temporada 27, episódio 3, Rustic Winter Woods


As modernas técnicas de pintura de Bob Ross enquadram este naturalista num estilo atual e simplificado, tendo criado um conjunto respeitoso de técnicas especificamente dirigidas para a plateia de pintores silenciosos que apesar do desejo, nunca pegaram num pincel pelo receio da tela em branco.

Ultrapassada essa barreira, pintar não tem limites!

Bob Ross acreditava (e nós também) que cada pessoa tem um artista dentro de si, que pode sair se libertar o impulso de pintar (isto depende de si) e se for ensinada a pintar da maneira correta (esta, a nossa meta). 


Boas pinturas!

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